Artesanato é utilizado como instrumento de educação cultural e disseminação da história no Quilombo

O Quilombo Conceição das Crioulas (QCC) mantém sua história e tradições vivas por meio dos artesanatos realizados na comunidade, transpondo barreiras a fim de ensinar sua cultura às gerações futuras. Os produtos de artesanato confeccionados na Conceição das Crioulas foram inclusive expostos na 18ª FENEART realizada em Recife, Pernambuco, no mês de julho.

As comunidades tradicionais enfrentam grandes dificuldades em manter a sua história, seja pela escassa documentação escrita da época ou pelo sufocamento da modernidade e exclusão social que são impostas às minorias por estas possuírem uma cultura diferenciada. Muitas lutas são travadas por estas comunidades vulneráveis, principalmente pelo direito à garantia da proteção do seu patrimônio histórico-cultural.

O Quilombo Conceição das Crioulas tem sua história iniciada em 1702, quando seis mulheres negras, possivelmente fugidas da escravidão, chegaram ao local onde há hoje a comunidade do quilombo. Mais tarde juntou-se à este grupo de mulheres um homem que teria participado de uma guerra, carregando consigo uma imagem da Nossa Senhora da Conceição, origem do nome Quilombo da Conceição das Crioulas. Após muito trabalho e sacrifício das mulheres negras, por meio do cultivo de algodão e sua comercialização, conseguiram angariar fundos e comprar o registro da terra onde estavam instaladas.

A comunidade até os dias atuais luta na justiça pela posse das terras já reconhecidas como quilombolas, pleiteando a devolução de partes dela que foram invadidas por fazendeiros e ainda não foram indenizadas pela União e entregue aos donos de fato.

Lourdinha, integrante da Associação Quilombola de Conceição das Crioulas, disse que até os dias de hoje mantém a mesma técnica artesanal de fazer cerâmica e outros artesanatos de forma sustentável a partir da fibra do caroá, um tipo de bromélia de poucas folhas.

Lourdinha também produz um doce sem comparação e apreciado por todos que o experimentam a partir do cacto xique xique que é muito abundante na região.

O modo tradicional da produção da cerâmica na comunidade utiliza um barro branco que é retirado de cima da Serra das Crioulas, um tipo que só é encontrado neste local, e exige uma técnica específica para ser retirado pois pode acabar prejudicando a qualidade da cerâmica a ser produzida. Após a coleta do barro ocorre o transporte na cangaia de um jumento até o fim da Serra porque o caminho é de difícil acesso e somente este animal consegue chegar até a parte mais alta. A cerâmica após trabalhada pelas mãos das artesãs da Associação são cosidas em um forno de barro para a produção final.

A produção dos artesanatos realizados na Associação da Conceição das Crioulas não procura somente o benefício econômico da comercialização das peças artísticas, mas sim a passagem das tradições daquela comunidade, transmitindo por meio da arte o seu patrimônio histórico-cultural a suas gerações futuras e à toda sociedade moderna. Quando é adquirido um artesanato produzido no Quilombo Conceição das Crioulas não está comprando uma mera peça mas está levando consigo um pedaço da nossa cultura e da construção histórica da sociedade nordestina.

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