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Pipeiros acabam o ano endividados e aguardam solução para suas reivindicações

  • Foto do escritor: Mandaracu Online
    Mandaracu Online
  • 20 de dez. de 2017
  • 5 min de leitura

Os pipeiros responsáveis pela entrega da água do Programa de Combate à seca do Governo Federal reivindicam mudanças nos valores pagos, mudança do Sistema de Rastreamento e pagamento dos valores atrasados que chegam à mais de noventa dias. O fim de ano de todas as famílias brasileiras é um momento de fechar as contas do ano e preparar as festividades para a recepção de um novo período que chega. O Natal e o Revelion tem uma importância simbólica para todo o povo e geralmente é um momento de vislumbrar boas novas para o novo ano com muita saúde e prospecção de novos objetivos, porém os motoristas de carros pipas do Sertão Nordestino que sofrem há tempos reivindicando melhorias e o acerto de contas pelos serviços prestados tem suas esperanças dirimidas pelo tempo passando e sua dívida aumentando.

Há anos os pipeiros lutam por reajuste nos valores das carradas de água e mudanças no seu espectro de trabalho, porém este ano de 2017 foi muito intenso com muitas manifestações, paralisações e reuniões para tentar um canal de comunicação com o Governo Federal.


Nas cidades do Sertão Nordestino como Cabrobó (PE), Petrolina (PE), Casa Nova (BA), Remanso (BA), Garanhuns (PE) e Pilão Arcado (BA) a situação dos pipeiros piora a cada dia, pois com o atraso dos pagamentos eles são obrigados a aumentarem sua dívida para financiar o Programa de Combate à Seca.

Crisna Clayton, motorista de Pilão Arcado (BA) falou sobre os problemas enfrentados pelos motoristas e como suas famílias sofrem com a falta de recursos. De acordo com as tabelas mostradas por Crisna o Fator de Multiplicação dos valores pagos pelas carradas de água permanecem praticamente estagnadas desde 2009, conforme imagens abaixo.


Foto: Planilha de pagamento de pipeiro de 2009 (colaboração Crisna)


Foto: Planilha de pagamento de pipeiro de 2017 (colaboração Crisna)

Conforme Crisna, Pilão Arcado é o quarto maior município em extensão do Sertão Nordestino, possuindo uma área de 12.610 Km e mesmo assim os valores de referência são praticamente os mesmos. Em um cálculo de uma carrada de água entregue em 2009 realizando um percurso de 60 km de ida gastava 40 litros de diesel ao valor de R$ 1,50 o litro, tendo uma despesa total de R$ 56,00 e tendo como valor ganho pelo serviço R$ 179,00. Já em 2017 uma carrada de água com um percurso dos mesmos 60 km e gastando os mesmos 40 litros de diesel ao valor de R$ 3,60 o litro, teria uma despesa de R$ 144,00 pela mesma água entregue em 2009, permanecendo somente com R$ 72,00 pelo serviço prestado. Esses cálculos inclusive não levam em consideração que o motorista terá que percorrer outros 60 km para retornar, o que acaba demonstrando que hoje, muitas vezes, o pipeiro acaba pagando para realizar o serviço. Somente neste exemplo já é possível verificar a degradação de 40% dos valores pagos de 2009 em relação à 2017.


Foto: Gideilson, Luiz Carlos e Crisna, motoristas de Pilão Arcado (BA) (crédito: Getúlio)

Além dos valores defasados os motoristas aguardam ansiosamente pelos valores devidos, pois muitos queixam-se de não receberem há mais de noventa dias. Os pipeiros são obrigados a tirar o dinheiro do bolso para financiar todo o Programa, ou acabam se endividando com Postos de Combustíveis e Casas de peças para manter seu caminhão rodando.

Especialistas apontam que uma solução para este problema do endividamento dos pipeiros seria a abertura de uma linha de crédito pelo Governo Federal, assim como acontece na Agropecuária. Seria aberto um crédito por meio dos bancos onde os pipeiros poderiam sacar antecipadamente os valores pelas carradas contratadas como uma antecipação e poderiam realizar o pagamento deste empréstimo na data em que recebessem os valores ou parcelariam, conforme a necessidade de cada motorista. Os juros poderiam ser subsidiados pelo Governo Federal, tendo em vista o viés social do Programa de Combate à Seca.

Outro problema enfrentado pelos pipeiros é o Sistema de Rastreamento que apresenta muitas falhas e acabam prejudicando financeiramente a muitos pois carradas de água deixam de ser paga pela não leitura do Sistema. Outros especialistas apontam a necessidade de se realizar um estudo do Sistema a fim de identificar os principais óbices e propor melhorias, pois não se pode inferir aos pipeiros a responsabilidade pelos problemas técnicos apresentados pelos aparelhos, além do que seria mais do que justo que toda Assistência Técnica fosse realizada na cidade de origem dos motoristas não onerando a eles mais um valor que deveria ser obrigação da Empresa responsável.

Ainda, conforme os motoristas Crisna, Luiz Carlos e Gideilson, os pipeiros pedem também melhor tratamento por parte dos integrantes dos Escritórios Pipas, pois eles dificilmente são recebidos para poder iniciar um diálogo e quando são recepcionados não recebem a oportunidade para esclarecer todos os fatos. Muitas noites em que os pipeiros tem a necessidade de regularizar um problema administrativo para dar entrada na documentação necessária par o pagamento das carradas realizadas eles são obrigados a permanecerem atirados nas calçadas, sem um local digno disponível para aguardarem o atendimento.


Crisna e seus colegas destacam que os pipeiros desejam apenas que sua pauta reivindicatória seja ouvida e levada aos Departamentos responsáveis, pois tem certeza que sua causa é justa e necessária para que o Programa de Combate à Seca permaneça tendo em vista que muitos motoristas já estão cansados e muito endividados para que consigam permanecer realizando o serviço humanitário. Eles não desejam prejudicar a população mais necessitada, pois suas raízes estão fincadas no solo arenoso no Sertão Nordestino e tem consciência que acabaria afetando muito mais as comunidades mais carentes. Porém enfatizam que não medirão esforços a fim de levar sua reivindicação até as últimas consequências, pois sabem que seu papel é muito importante para a permanência do Programa e para o desenvolvimento do semiárido nordestino.

Em conversa com Glênio, Secretário de Agricultura de Cabrobó, interior de Pernambuco, foi esclarecido que o Município está de mãos atadas, pois o papel do Governo Local é tão somente apontar as localidades que poderão participar do Programa, cabendo todo o restante dos encargos burocráticos ao Exército. Esforços foram realizados para remeter as pautas reivindicatórias às instâncias superiores e somente o Exército poderia realizar estudos mais aprofundados e propor mudanças e melhorias tanto no Sistema de Rastreamento quanto aos Fatores de Multiplicação.

Em contato com o Escritório Pipa em Recife, capital de Pernambuco, foi informado que quanto ao pagamento das carradas de água o monitoramento dos caminhões-pipa é realizado através do “Sistema de Monitoramento G-PIPA” e, seguindo a orientação do Tribunal de Contas da União, os pagamentos dos pipeiros são realizados com base na informação desse sistema. É informado mensalmente à empresa contratada os problemas encontrados no G-PIPA, bem como vem estudando medidas alternativas de melhoria no controle da entrega da água. Os pipeiros que se sentirem prejudicados deverão comparecer às seus referidos Escritórios Pipas a fim de esclarecerem quaisquer discordâncias. Ainda, são disponibilizados serviços de ouvidoria permanente e que o atendimento ao público é pautado na educação e no respeito ao cidadão, e que fatos isolados de possíveis desvios de conduta dos seus quadros são apurados através de procedimentos administrativos. Os pagamentos pendentes serão realizados dentro do tempo exigido e que os Escalões Superiores estão sensibilizados com as solicitações de mudanças nos valores do Fator Multiplicador.

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