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Indígenas Karapató vivem às margens da BR 101, em Alagoas

  • Foto do escritor: Mandaracu Online
    Mandaracu Online
  • 1 de dez. de 2018
  • 4 min de leitura

Perto de Messias (AL), existem alguns acessos a terras indígenas às margens da BR-101. São os Karapotó. Fomos lá pra saber sua história e como vivem.

As aldeias estão localizadas na zona rural do município de São Sebastião (AL), próximo à rodovia BR -101, na região Agreste do Estado. Ficam a 10 quilômetros da cidade e a 125 quilômetros da capital Maceió. Estima-se que a população gira em torno de 300 famílias, com 700 pessoas na comunidade.

Os indígenas participaram na construção de casas novas pelo Programa Minha Casa Minha Vida e muitos deles aumentam a renda da comunidade por trabalhar como pedreiros e serventes, ajudando na construção. Mas nem sempre foi assim, existiu uma história antes de tudo isso.

Durante o período da República, os indígenas Karapotó lutaram pelos seus direitos e conseguiram reaver parte de seu antigo território no Rio Boa Cica e construíram uma nova Aldeia Karapotó. Após a demarcação da área, passou a existir dois grupos Karapotó: o autodenominado Karapotó Plaki-ô, liderado por Juarez de Souza, e Karapotó Terra Nova, em referência ao povoado onde residem, liderado por Rosicleide (Nena) Santos.

O primeiro relatório de identificação da Terra Indigena Karapotó foi realizado em 1988 e tinha como proposta a demarcação de uma área de 1.810 hectares, dos quais 1.100 hectares foram adquiridos pela Funai em 1995. Uma área descontínua da primeira, conhecida como Salobro com 270 hectares, foi adquirida posteriormente pelo órgão indigenista em 2003.

Atualmente o grupo Karapotó Plaki-ô ocupa área adquirida da fazenda Taboado, uma área descontínua conhecida como Cabeça de Vaca e alguns imóveis contínuos até o limite da estrada da Barroca. A área conhecida como Estiva e os imóveis adquiridos contínuos a Estiva, ambos após a estrada da Barroca, bem como a área descontínua conhecida como Salobro, são ocupadas pelo grupo Karapotó Terra Nova.


Entrada da Terra Indígena Karapotó Plaki-ô

Saindo da história e indo para a cultura, os índios Karapotó estão profundamente ligados ao seu modo de vida e a sua religiosidade. Para eles, a tradição está ligada à construção da identidade étnica. Na aldeia, o índio forma seu sentimento de pertencimento a uma tradição, a uma família, a uma coletividade - conforme sua etnia, sua história e sua cultura.

A genealogia Karapotó é base de toda história, tradição cultural e identidade étnica. Nisso, pode-se entender o que diferencia o índio do não-índio. Na relação tradição-identidade-religião é que se consegue compreender a cultura indígena Karapotó. Ela é uma cultura que passa pela diversidade do artesanato até chegar a unidade do ritual do Ouricuri, que é mais do que um ritual. É um símbolo de etnia, guardião do segredo e do sagrado modo de ser indígena.

O espaço do Ouricuri é o espaço de unidade da comunidade, nele as diferenças entre os índios acabam. É um espaço sagrado e um ritual imemorial; o Ouricuri se afirma pela identificação com a tradição ancestral situado num espaço sagrado, em que às vezes passam até 15 dias.

O índio Karapotó conhece bem a importância da preservação do meio ambiente, pois é nele que se planta, trabalha, funda as suas tradições e a sua religiosidade. Qualquer ameaça a natureza é considerada uma ameaça ao modo de vida Karapotó. A natureza, para os Karapotó, guarda a terra dos ancestrais e a tradição sagrada do Ouricuri, com isso a preservação da natureza não é responsabilidade de um índio, mas de toda comunidade.

Um dos principais locais sagrados do Ouricuri fica em Porto Real do Colégio (AL), onde é realizado um grande encontro entre os indígenas das proximidades, principalmente no mês de janeiro.

Alguns Karapotó também participam dos rituais católicos, frequentam à missa aos domingos, batizam seus filhos e frequentam as festas religiosas. Entretanto, apesar da influência que os Karapotó têm do catolicismo, o Ouricuri continua sendo, para a grande maioria deles, a experiência da vida sagrada, de onde vem o segredo e a ciência indígena.

Na comunidade os indígenas trabalham com agricultura, pecuária e artesanato.

Existem vários encontros entre as aldeias indígenas no próprio estado de Alagoas, como também em outros estados como Pernambuco, Sergipe, Bahia, Distrito Federal e São Paulo.

Há uma certa infraestrutura: a comunidade possui um posto de saúde que funciona com parceria do Instituto De Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), sendo constituído com 01 (um) médico, 01 (um) dentista e 02 (duas) enfermeiras. Existem algumas escolas municipais próximas da aldeia Karapotó mas não o suficiente para a comunidade indígenas. Ainda precisam de uma escola estadual com ideias e cultura indígenas.


Posto de saúde Karapotó Terra nova

Mesmo consolidados onde vivem, há necessidades para os Karapotó, tais como: mais terras para comunidade, uma área de artesanato, melhorias no saneamento básico, água de melhor qualidade, uma associação de reunião, uma área cultural, uma área de lazer, um ônibus para se deslocar para outras comunidades indígenas, um caminhão para os trabalhos na aldeia.


Artesanato dos Karapotó

Como vivem às margens da BR-101, necessitam também de um acordo com DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) sobre o planejamento da duplicação da rodovia sobre suas terras.

Existem em vigor alguns projetos com a FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e outros órgãos do governo, que ajudam no planejamento, organização e estruturação da comunidade.

Mesmo com os percalços e vazios do Poder Público, os índios Karapotó resistem, mantêm suas tradições e continuam a viver como sempre souberam: em contato e preservando a natureza.


Palestra para comunidade Karapotó Plaki-ô


Palestra para Comunidade Karapató Terra nova

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