A extinção da política ambiental no Brasil e os riscos para a vida no planeta
- Mandaracu Online
- 19 de jul. de 2019
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Desde que tomou posse, as ações do governo de Jair Bolsonaro têm deixado claro que o meio ambiente é uma área que deve se submeter às demais. E por aí vem liberação recorde de agrotóxicos, questionamentos sobre dados de desmatamento, o desejo de emprego de recursos do Fundo Amazônia para indenizar agricultores (quando o recurso deve servir para ações diretas de preservação), ataque a direitos e mecanismos de proteção de povos originários, além de fortalecimento do discurso de que as questões ambientais devem ser flexibilizadas em prol do desenvolvimento econômico.

Essas e outras tantas medidas são, para a cientista social Cristiana Losekann, muito mais do que um revés da política ambiental. “O que está em jogo não é um novo modelo de política ambiental, mas o próprio fim da política ambiental”, dispara, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. “O governo atual rompe com nossa tradição de política ambiental e inicia uma série de medidas que eliminam a participação da sociedade e a corresponsabilidade da sociedade. Ao fazer isso, restringe o poder de proteção ambiental ao Estado ao mesmo tempo que desmantela os órgãos de controle e fiscalização”, avalia.
Cristiana recorda que, numa perspectiva histórica, a política ambiental brasileira sempre teve uma “concepção de responsabilidade compartilhada na proteção da natureza, entre Estado e sociedade”. Ou seja, de um lado o Estado tem o poder de regulamentar e gerir as questões de meio ambiente, mas, de outro, a sociedade tem participação ativa nessas ações, na construção e fiscalização dessas políticas ambientais. “Essa concepção está expressa em diferentes instituições nossas e formulada a partir das diferentes concepções de natureza e de problemas ambientais que foram se desenvolvendo ao longo desses anos na nossa esfera pública”, pontua. Mas, agora, o Estado chama para si essas ações, desnutrindo fóruns como o Conselho Nacional de Meio Ambiente. “É uma ruptura sem precedentes com o que a sociedade brasileira vem pactuando em torno das questões ambientais. A questão é que os efeitos catastróficos disso são incontroláveis e cairão sobre nós e mais ainda sobre as populações já subalternizadas”, acrescenta.
Para a cientista social, é evidente que esse modelo não se sustenta. No entanto, teme que, quando se perceber a inviabilidade dessas lógicas, seja tarde demais. “O grande perigo desse desmonte é que nós até podemos reconstruir instituições, refundar nossa política ambiental no futuro, mas não podemos fazer reviver toda a vida que foi destruída, todo o ecossistema que foi alterado”, alerta. E provoca: “uma das maiores demonstrações de inteligência do ser humano é o reconhecimento do seu próprio limite, daquilo que não sabe e que ainda precisa aprender. Governos que agem como prepotentes demonstram ser, inconsequentemente, o contrário disso”.
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